Mundo
Reflexões sobre a vida e a existência: a jornada do tempo e da finitude, por Monja Coen
Novas eras nasceram e morrem, bilhões de vezes, em meio ao corpo falido e mente turbada de um espírito desafiado pelo envelhecimento e finitude.
No reflexo do espelho vejo as marcas do tempo, os fios de cabelo perdendo a cor, a visão se tornando mais fraca, os músculos perdendo a força. Mesmo que eu me esforce para manter a saúde, seguir dietas, remover os cabelos e os pelos indesejados que insistem em crescer, a vida é outra hoje. Na minha adolescência não era assim. Agora tudo se modifica constantemente: o corpo, a mente, o espírito. O nariz aumentou. As orelhas e os pés também.
Entre os sinônimos para a vida, podemos escolher existência como uma forma de expressar a jornada que percorremos. Cada momento é precioso, cada experiência molda quem somos. A vida é um presente que devemos valorizar, apreciar e viver intensamente. Afinal, a vida é feita de momentos únicos e inesquecíveis que nos definem.
Vida: a jornada da existência
Nas mãos, os dedos inchados e curvos do envelhecimento não passam despercebidos. A vontade de vivenciar a juventude eterna se dissipa, mas sem perder a essência de viver e existir. A cada momento, experimentamos inúmeras vezes o ciclo da vida. Compre agora: Amazon – R$ 56,90. Reconheço e admiro o avô português, calvo de rosto redondo, semelhante ao meu atual, que me surpreende ao me ver no espelho: eu sou eu e sou ele; ele em mim e eu nele. No reflexo, vejo a mãe em sua velhice e juventude, a criança e a adolescente, a jornalista, a feminista, a monja e uma linhagem de Budas ancestrais. Sou todas elas e todas são parte de mim. Podemos envelhecer de maneira suave, com ou sem dignidade. E, nesse processo, podemos rir e chorar, ficar neutros, discutir, esquecer sem pressa, sem esforço para lembrar. Já sem a necessidade de provar algo ao mundo. Viver cada momento da existência intensamente, sabendo que podem ser os últimos. Repetir frases antigas e novas, inventar novas formas de ser. Recitar de memória poemas da infância e canções da juventude, mesmo que sejam apenas trechos, misturados de forma confusa. Isso porque a memória, minha aliada e adversária, por vezes confunde o futuro com o presente. Sigamos juntos nessa jornada da vida: cada dia nunca é mais, é sempre menos. No entanto, essa certeza ainda nos surpreende e aflige, além das dores nos joelhos e nas costas, dos padrões de sono irregulares e das noites insones com ou sem lua. Ah, a lua! Continua a encantar a todos, mesmo sabendo que é apenas um pedaço de rocha habitado por um coelho batendo arroz em um pilão e São Jorge, o cavaleiro, e um dragão. Por outro lado, o sol nutre o corpo e a mente através das plantas e sementes. E envelhecemos mais rapidamente quanto mais nos expomos a ele ao longo da vida. Monja Coen é autora, entre outros livros, do recente Em cada momento nascemos e morremos bilhões de vezes, publicado pela Academia da Editora Planeta. Compartilhe este artigo via: WhatsApp Telegram.
Fonte: @ Veja Abril