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Futebol

Brasil: Por que a produção de grandes jogadores supera a inovação técnica no futebol brasileiro?

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Felipão e Paulo Ferreira no Chelsea Getty Images Tite durante treino da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2022, no Qatar Lucas Figueiredo/CBF Manuel Pellegrini, técnico do Bétis, na partida contra a Real Sociedad pela La Liga Getty Images

O futebol brasileiro e a seleção brasileira no cenário europeu, com lógica básica e técnico da seleção. Entrevistados concordaram em minutos para crescer.

Com a seleção brasileira, Dorival Júnior assumiu seu 26º cargo diferente como treinador nos últimos 22 anos (estão na soma os trabalhos pelo mesmo clube em diferentes passagens). Dentre os seus compatriotas, esta quantidade passa muito longe de ser um caso isolado. Treinar em um país como o Brasil é sinônimo de trocar de emprego rápido.

No setor de formação de jogadores, a lógica comum é que os treinadores tenham passagens curtas pelos clubes. Seu antecessor na seleção (embora de forma interina), Fernando Diniz, que dividia o cargo com o de técnico do Fluminense, teve 17 vínculos em 13 temporadas. Antes dele, Ramon Menezes, também interino, teve 11 em 10 anos. Até mesmo o antecessor, Tite, que comandou o Brasil em duas Copas do Mundo (2018 e 2022) e foi o técnico da seleção nacional que mais tempo permaneceu no cargo na história (6 anos e 3 meses), teve 17 empregos diferentes em 25 anos, com sua passagem mais famosa sendo pelo Corinthians, antes de ser nomeado pela CBF.

Como o Brasil desafia a lógica europeia

Estes números, mais uma vez, não surpreendem quem acostumou a acompanhar e lidar com o futebol brasileiro e sul-americano como um todo. Entretanto, em uma visão europeia, esta grande quantidade de rotatividade vai contra toda a lógica básica estabelecida nas maiores ligas do mundo, bem como o sistema que cada seleção opera ao escolher seu comandante.

Uma visão europeia controversa

Em primeiro lugar, supomos, na Europa, que as federações escolhem os melhores técnicos disponíveis para dirigir suas equipes nacionais, especialmente quando essa seleção é o Brasil, a maior de todas, com cinco títulos de Copa do Mundo. Você também entende que a melhor disponibilidade significa algo entre bom e ótimo, especialmente em um país com uma longa e orgulhosa tradição futebolística.

Você também presume que os bons técnicos tendem a permanecer em seus empregos porque seus chefes querem fazer de tudo para mantê-los no cargo. Obviamente, existe uma hierarquia e estamos acostumados a ver os técnicos passarem para cargos maiores e melhores. Mas quando chegam ao topo, eles tendem a permanecer lá e, mesmo que sejam demitidos, tendem a reaparecer em um nível comparável.

Só que… não é assim que funciona no Brasil. Os técnicos estão sempre em movimento, alternando entre os clubes como se fossem freelancers. A passagem mais longa de Dorival no comando de um time foi de menos de dois anos, no Santos, entre julho de 2015 e junho de 2017. Ele assumiu no meio da temporada, levou o clube à sétima colocação do Campeonato Brasileiro, terminou em terceiro no ano seguinte e foi demitido após quatro jogos em 2017. Foi uma entre as duas únicas vezes em que ele durou mais de um ano em um cargo.

Isso vai contra a sabedoria convencional do futebol na Europa e na maior parte do mundo, locais em que se supõe que os técnicos precisam de tempo para formar equipes, melhorar os jogadores e instalar filosofias. Isso também tem um grande efeito indireto: em geral, os técnicos brasileiros não são muito bem vistos nas grandes ligas europeias, nas quais se encontram a maior parte do dinheiro e da atenção.

Você pode contar em uma mão o número de técnicos brasileiros que trabalharam nas cinco grandes ligas da Europa nas últimas duas décadas, e cada um deles tem seus contrapontos.

Luiz Felipe Scolari teve uma passagem ruim pelo Chelsea em 2008/09, Vanderlei Luxemburgo durou menos de 12 meses no Real Madrid, em 2005, Ricardo Gomes comandou o Bordeaux e o Monaco, Leonardo treinou a Inter de Milão e o Milan entre 2009 e 2011, e Thiago Motta está em grande fase com o Bologna no Campeonato Italiano.

(Vários desses casos deveriam vir com asteriscos ao redor de como eles conseguiram seus empregos. Scolari precisou literalmente vencer a Copa do Mundo em 2002 com o Brasil para despertar o interesse de equipes europeias – primeiro a seleção portuguesa e depois o Chelsea. Leonardo deixou o cargo de técnico por inteiro depois de apenas dois anos e se tornou um executivo de escritório. Motta mudou-se para Barcelona aos 17 anos, teve uma carreira longa e bem-sucedida em Espanha, Itália e França, jogou pela seleção italiana e obteve sua licença de técnico na Europa).

À primeira vista, isso não faz muito sentido para um europeu, pois o Brasil é um celeiro do futebol. Mesmo aqueles que não sabem nada sobre o esporte não vão contestar isso. É claro que existem outras nações que também amam muito o futebol, e até tem uma tradição similar no esporte. Entretanto, o tamanho do país é o grande diferencial. Seus mais de 200 milhões de habitantes totalizam mais pessoas que a Alemanha, a Argentina, a Itália e o Uruguai juntos, todos colegas no clube de campeões da Copa do Mundo.

Não é de se surpreender, portanto, que o Brasil produza uma quantidade absurda de atletas, a maioria dos quais é exportada para o exterior. Um levantamento do Centro Internacional para o Estudo dos Esportes (CIES) constatou que dos 14.405 jogadores de futebol que atuam fora de seu país de origem em 135 ligas ao redor do mundo, 1.289 são brasileiros. Isso representa um em cada 11, mais do que qualquer outra nação.

Pode-se supor, portanto, que um país que produz tantos talentos em campo, com tanta tradição e conhecimento por trás desse processo, também seria excelente na formação de treinadores de ponta. Só que esse raciocínio estaria errado.

Então, como podemos explicar isso? Conversando com meia dúzia de jornalistas, executivos, empresários e técnicos que trabalharam no Brasil, a questão parece ser resumida ao fato de que o país é simplesmente um mundo diferente, não apenas em relação à Europa, mas também em relação à maior parte da América do Sul. Essas conversas também produziram os fatores abaixo. Os entrevistados concordaram quanto à importância de cada um deles, mas todos foram citados por vários entrevistados.

1. Estrutura dos clubes brasileiros

Estruturalmente falando, os clubes brasileiros têm uma mentalidade de contratar e demitir, focada no curto prazo.

Isso explica a carreira de Dorival. Às vezes, os clubes demitem os técnicos após alguns resultados ruins. Às vezes, os times fazem contratos de curto prazo, o que traz seus próprios problemas. Isso porque, se o técnico for mal, não terá seu contrato prorrogado e, se for bem, um rival poderá levá-lo de graça.

Muito disso tem a ver com o fato de que a maioria dos clubes brasileiros tem eleições para diretorias e presidentes. Eles são eleitos e, em seguida, entram em modo de reeleição imediatamente, sabendo que alguns resultados ruins farão com que os eleitores se voltem contra você, e por isso eles seguem o sentimento popular.

Uma lei introduzida em 2021 facilitou que os clubes se tornassem entidades com fins lucrativos com acionistas privados, as famosas Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) – e, portanto, proprietários que de fato têm interesses em jogo poderiam ter uma visão mais ampla e injetar capital nos clubes. Hoje, times como Vasco, Red Bull Bragantino, Botafogo, Atlético-MG e Cruzeiro são de capital fechado. Mas eles ainda representam a minoria e, é claro, o fato de serem privados não significa que façam boas escolhas.

2. Falta de estímulo para demitir técnicos

Não existe uma real desvantagem em demitir técnicos nos clubes europeus. No Brasil, isso é menos problemático, um pouco porque os dirigentes dos times brasileiros não estão jogando com seu próprio dinheiro, mas com o do clube. Além disso, a mentalidade de contratar e demitir está tão enraizada na cultura futebolística do país que o cara que você demitiu e ainda está pagando provavelmente não ficará desempregado por muito tempo, já que a rotatividade de técnicos é muito alta e é provável que ele encontre outro emprego.

Além disso, não há muito estigma em trazer um técnico de volta depois de tê-lo demitido – na verdade, alguns torcedores adoram isso. O treinador do Grêmio, Renato Gaúcho, está em sua quarta passagem pelo clube. Ele também teve quatro períodos de comando no Fluminense (e um pelo seu arquirrival, o Flamengo). Dorival teve três oportunidades no Flamengo, duas no São Paulo e outras duas no Santos.

3. A instabilidade do emprego

A falta de estabilidade no emprego significa que não há incentivo real para que os técnicos assumam riscos e tenham uma visão de longo prazo. Grande parte do futebol brasileiro tende a ser contra correr riscos, não em termos de modelo de jogo, mas sim porque a maioria dos técnicos tem que se concentrar na execução, em vez de na criatividade tática ou na inovação. Há exceções a isso, é claro – o já mencionado Fernando Diniz é decididamente da escola de Pep Guardiola –, mas, em geral, os treinadores brasileiros, com ou sem razão, são vistos como meros gerenciadores de homens ao invés de inovadores.

4. Exportação de talentos

O fato de o Brasil ser um grande exportador de talentos dificulta a manutenção de projetos. Os clubes no topo da cadeia alimentar na Europa tendem a não perder seus melhores jogadores todos os anos, o que significa que os técnicos podem se dar ao luxo de ajustar e aperfeiçoar suas equipes. O mesmo não acontece no Brasil, onde os times que conquistam títulos são regularmente dissecados por clubes da Europa – nos últimos anos, pela Arábia Saudita também.

Se você é o técnico de um time que acabou de perder seu principal centroavante e general do meio-campo, qual será sua motivação para continuar no time? Especialmente quando outro clube estiver batendo à porta?

5. Hierarquia futebolística diferente

O Brasil tem uma hierarquia futebolística totalmente diferente da Europa. Você já ouviu falar do ‘Big Six’ na Inglaterra? Bem, o Brasil tem os ‘Clube dos 12’. São 12 times que ganharam 62 dos 68 campeonatos nacionais na história. Eles vêm apenas de quatro estados do país (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo), mas são os mais populares, com mais torcedores e recursos, e dominam as conversas e a atenção da mídia.

Isso tem dois efeitos indiretos. Primeiro, as expectativas são altas em todos eles e, embora haja uma boa rotatividade ano após ano no topo do Brasileirão – certamente bem mais do que na Europa –, inevitavelmente, a maioria dos clubes ficará muito decepcionada na maioria dos anos. Isso coloca mais pressão sobre os técnicos. Em segundo lugar, se você for demitido de um dos 12 grandes, é provável que haja vários outros deles procurando um técnico.

6. Prestígio no exterior

Sair do Brasil geralmente significa dar um grande passo para trás em termos de prestígio. O que veio primeiro, a galinha ou o ovo? Os clubes de alto calibre da Uefa Champions League não vão contratar técnicos brasileiros neste momento (a menos que outro vença a Copa do Mundo, como Felipão em 2002) porque o futebol europeu é visto como muito diferente. Assim, os únicos empregos que um treinador de um grande time no Brasil provavelmente conseguirá em um dos cinco maiores campeonatos são em equipes de nível médio ou inferior.

Em outras palavras, isso significa trocar uma situação em que você pode não ter muita estabilidade, mas tem muitas oportunidades.

7. Licenças de treinador

Pode parecer um obstáculo burocrático bobo, mas a maioria das ligas europeias não reconhece a maior parte das certificações brasileiras de técnico. É possível obter isenções, mas, para isso, é preciso atingir um certo nível de sucesso, o que, mais uma vez, nos leva de volta à situação anterior do ovo e da galinha.

8. Barreira de idioma

Parece simples, mas a maioria dos técnicos brasileiros não fala inglês ou espanhol. Ir contra a sabedoria convencional e nomear um técnico do Brasil já é bastante difícil. Ter que fazer isso por meio de um tradutor? Novamente, isso é um obstáculo extra.

A propósito, Portugal parece ser um ponto de aterrissagem óbvio para os técnicos brasileiros, mas houve apenas alguns nos últimos anos, possivelmente porque Portugal produz muitos técnicos.

9. Racismo

É um assunto incômodo, mas pessoas como o técnico do Juventude, Roger Machado, citaram o racismo e o preconceito em várias ocasiões. O número de treinadores que se identificam como pessoas de cor no futebol europeu é proporcionalmente inferior ao número de jogadores que se identificam da mesma forma.

No Brasil, essa desproporção é ainda mais extrema. Embora o país possa produzir uma tonelada de jogadores de futebol talentosos, uma parte significativa deles será formada por pessoas de cor, que têm muito mais dificuldade em conseguir os melhores empregos no esporte.

10. Valorização na Europa

Os clubes europeus geralmente não estão interessados em buscar os talentos de técnicos fora de seu território. Ou talvez eles simplesmente não acreditem que eles existam.

Novas perspectivas
Seja qual for a razão, a realidade mostra que os treinadores brasileiros enfrentam uma série de desafios para ganhar reconhecimento e estabilidade na Europa. Enquanto continuamos a testemunhar a ascensão de jovens e talentosos treinadores da América do Sul, é importante entender a complexidade por trás da dificuldade enfrentada pelos técnicos brasileiros para alcançar o mesmo sucesso no cenário internacional.

Fonte: ESPN – Futebol

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