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Meio Ambiente

Descobrindo os segredos da floresta através da fértil terra preta da Amazônia

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ouro negro, solo preto como carvão
Cientistas estão estudando um tipo diferente de relíquia subterrânea – a terra preta da Amazônia, criada há milênios e usada na agricultura até hoje. — Foto: Alamy via BBC Estima-se que a terra preta esteja presente no solo de 0,1 a 10% da bacia amazônica. — Foto: GETTY IMAGES via BBC Terra preta da Amazônia foi desenvolvida durante milhares de anos — Foto: Alamy via BBC - Todos os direitos: G1

Camada de solo vulcânico fértil com 3,80 metros de espessura encontrada em trechos isolados na bacia amazônica, contendo matéria orgânica em decomposição e sementes fossilizadas.

Nas profundezas da floresta amazônica, o arqueólogo Mark Robinson ficou impressionado com a quantidade de terra preta que encontrou em sua expedição. Junto com uma equipe internacional de cientistas, Robinson fez parte de uma expedição para um trecho remoto de floresta em Iténez, no noroeste da Bolívia, perto da fronteira com o Brasil. Chegar até lá não foi nada fácil. Para evitar uma viagem de 10 horas de barco, eles pegaram um voo até a aldeia mais próxima, Versalles.

A viagem foi assustadora. O avião precisou voar em círculos sobre uma pista de grama para não aterrissar sobre um rebanho de animais pastando. A descoberta da terra preta nessa região remota é fundamental para a compreensão da floresta tropical e suas potencialidades. O solo preto como carvão é uma verdadeira riqueza natural, conhecida também como ouro negro pelos povos indígenas locais.

Busca pela terra preta da Amazônia

Depois de uma longa caminhada através da densa floresta tropical, onde desafiaram raízes nodosas e exércitos de formigas devastadoras, os pesquisadores finalmente alcançaram seu objetivo. A busca pela terra preta da Amazônia, também conhecida como ‘ouro negro’, valeu a pena. Eles se depararam com uma camada de solo preto como carvão que pode ter até 3,80 metros de espessura, distribuída em trechos remotos por toda a bacia amazônica.

Intensamente fértil e rica em matéria orgânica em decomposição e nutrientes essenciais, como nitrogênio, potássio e fósforo, a terra preta é resultado do trabalho de seres humanos que viveram muito tempo atrás. Está e é encontrada em locais isolados da floresta tropical, mas com uma influência sutil em todo o ambiente.

Cientistas acreditam que as camadas de solo vulcânico fértil e terra preta da Amazônia foram essenciais para a sustentação das antigas civilizações que uma vez floresceram na região. A descoberta da ‘cidade-jardim’ no Equador, completada com praças, ruas e plataformas cerimoniais, trouxe à tona a consideração da existência de outros assentamentos antigos escondidos na Amazônia e reforçou o interesse pelas lições que os métodos antigos podem ensinar às sociedades atuais.

Impacto significativo

Os pesquisadores estão descobrindo evidências marcantes, que confirmam a influência duradoura das comunidades antigas ao longo da floresta tropical. Em 2017, os estudos revelaram que as árvores domesticadas pelo homem pré-colombiano são as dominantes na Amazônia, e atualmente, as práticas agrícolas dos povos originários continuam a modelar a floresta tropical. Uma das principais consequências dessa influência é a disseminação da terra preta da Amazônia por toda a região. Uma evidência marcante da presença antiga são os esferólitos fecais — cristais minúsculos encontrados no esterco animal, que indicam os tipos de animais que costumavam habitar a região no passado e, adicionalmente, testemunham a riqueza dos métodos antigos.

Uma vez que a terra preta continha uma potente combinação de materiais inorgânicos, como cinzas, argila, ossos e conchas, e materiais orgânicos como restos de alimentos, esterco e urina, juntamente com as sementes fossilizadas, a terra preta continua a enriquecer a floresta tropical e permitir que as comunidades indígenas plantem naqueles locais até hoje.

Passado revelador

No quesito de história, a terra preta já despertou o interesse dos europeus no final do século XIX, quando diversos cientistas observaram a camada de solo preto, que contrastava com a terra clara ou avermelhada à sua volta. O processo de criação da terra preta da Amazônia é ainda tema de mistério. Em 2023, os pesquisadores concluíram que essas camadas de solo foram produzidas de forma intencional. As camadas mais antigas tem cerca de 5.000 anos de idade .

Depósitos de terra preta contam a história da ascensão e queda de antigas civilizações indígenas em toda a Amazônia. Desde o auge da produção da terra preta há 2.000 anos, até o declínio há 500 anos, quando inegavelmente algo deu errado. A estimativa é que a chegada de Cristóvão Colombo à América do Sul e o genocídio resultante tenham sido fatores que contribuíram para a diminuição da produção. Isso levou à redução das comunidades indígenas e, em última instância, impactou a produção da terra preta da Amazônia.

Poderoso carbono

A terra preta da Amazônia contém até 7,5 vezes mais carbono que o solo das suas proximidades. Ela atua como um poderoso sifão de carbono, retendo o carbono no subsolo, onde permanece estável por centenas de anos, o que retarda sua entrada na atmosfera.

O mecanismo original de criação da terra preta e seu enriquecimento é similar em diferentes locais, mas parte curiosa é que sua composição varia. A base do solo é composta principalmente de restos de alimentos, com adição de fezes e carvão. O carvão preto, conhecido como biochar, é um ingrediente essencial desse solo e é encontrado na terra preta de toda a região amazônica.

A tentativa de copiar os métodos antigos para melhorar o solo em combate às mudanças climáticas passou a ser uma realidade. Empresas, como a Carbon Gold, estão produzindo biocarvão para auxiliar orgânico no plantio. Está se tornando cada vez mais evidente que os métodos dos antigos povos indígenas da Amazônia serão essenciais para as gerações futuras, fornecendo informações valiosas sobre práticas sustentáveis para a agricultura e estimulando a reflexão sobre o passado.

Leia a versão desta reportagem em inglês no site BBC Future.

Fonte: G1 – Meio Ambiente

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