Meio Ambiente
A dolorosa jornada dos elefantes: fome, agressão e cárcere antes de encontrarem o seu santuário na América Latina
Resgate de elefantas após 60 anos de exploração por circos e zoológicos. Sofriam violência física e psicológica, infecção no osso e expostas a tempo degradante. Santuário exclusivo oferece chance de recuperação.
Em um lugar distante, a Associação Santuário de Elefantes Brasil (SEB) é um refúgio para elefantes em perigo, situado na Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá. Este é o único local adequado na América Latina para receber elefantes em situação de risco. Além da sua localização única, o santuário abriga atualmente seis elefantas: Maia, Rana, Lady, Mara, Bambi e Guillermina. Cada uma delas foi resgatada de maus-tratos após serem exploradas por mais de 60 anos por circos e zoológicos.
Essa espécie gigante, também conhecida como paquiderme, é um animal selvagem que agora pode viver em paz no santuário. Esses mamíferos terrestres finalmente encontraram um lar onde podem ser felizes e receber os cuidados necessários.
🐘Elefantes: problemas de saúde após anos de exploração
O biólogo do Santuário, Daniel Moura, compartilhou com o g1 que todas as elefantas resgatadas possuem algum tipo de problema de saúde que compromete a integridade física e mental do animal devido aos longos anos de exploração.
‘Esses problemas são comprometedores para a saúde dos elefantes em um contexto geral. São cerca de 60 anos de exploração, então eles acarretam uma série de problemas que a gente consegue monitorar, mas outros nós nem conseguimos acessar’, enfatizou.
Segundo a SEB, o espaço exclusivo para a espécie existe há mais de 7 anos, tanto que Maia foi uma das primeiras moradoras ao chegar ao local, junto com Guida, que morreu em junho de 2019. Desde que foi inaugurada, a entidade só recebeu fêmeas, já que essas elefantas são mais fáceis de serem encontradas em cativeiro por serem menores e mais dóceis e por isso são mais exploradas, segundo o biólogo. Atualmente, o santuário abriga somente elefantes fêmeas da espécie asiática.
‘Além de serem menores que os machos, as elefantas asiáticas, por exemplo, não tem marfim naturalmente, que é aquele ‘dentão’. No geral, os elefantes asiáticos são mais tranquilos que os africanos, então para explorar, sequestrar, abusar e colocar em circo era muito mais fácil pegar as fêmeas’, esclareceu.
Como as elefantas passaram muitos anos vivendo sob exploração, desenvolveram traumas psicológicos após serem obrigadas a realizar atividades voltadas para o entretenimento humano, como malabarismo e equilíbrio.
‘O ato de acatar ordens, fazer truques e receber comandos é totalmente fruto de violência física e psicológica. Qualquer tipo de atividade que não seja natural do animal, ele faz porque está sendo violentado. A pessoa responsável pelos abusos sempre tem um gancho na mão ou algo que perfure e é essa reação que faz o animal obedecer. Eles associam o medo com a ordem’, expressou.
Uma das elefantas que mais possui sequelas é a Lady. Ela saiu de um zoológico na Paraíba depois de ter sido apreendida em um circo, em 2013. O animal tem uma doença séria chamada osteomielite, que é uma infecção no osso que causa muitas dores e não tem cura.
‘Essa infecção é uma das grandes causas de morte de elefantes em cativeiro no mundo. Por conta da doença, ela vai passar por tratamento pelo resto da vida. Devido à violência de anos, ela é uma elefanta muito assustada, por isso, ela é o nosso elefante que mais recebe cuidados’, enfatizou.
Segundo o biólogo, a Maia e a Guida, por exemplo, foram encontradas em um local mais degradante que o resto das elefantas, já que estavam acorrentadas em um local com exposição ao sol e chuva. Como o espaço também era muito pequeno, elas não tinham água adequada, e as fezes se misturavam ao pouco de alimentação que recebiam.
‘É uma coisa revoltante. Todas foram maltratadas, mas a Maia e a Guida estavam em um local ligado ao circo, diferente das outras que recebiam o mínimo nos zoológicos. Foi uma exploração sem fim, por isso que o santuário não permite visitação, para que elas não sejam mais tratadas como mercadoria que é exposta em troca de dinheiro’, esclareceu.
🐘Elefantes: compreendendo a diversidade desses animais
Os elefantes asiáticos e africanos representam duas espécies distintas, cada uma com características anatômicas e comportamentais únicas. Essas diferenças contribuem para a diversidade desses animais em termos de tamanho, aparência e comportamento.
Em relação ao tamanho, os elefantes asiáticos são geralmente menores quando comparados aos elefantes africanos. A distinção nas orelhas também é notável. Os elefantes asiáticos possuem orelhas menores, com uma forma característica de leque, enquanto os elefantes africanos apresentam orelhas maiores e mais arredondadas, frequentemente lembrando o contorno do continente africano.
Quanto ao habitat, elefantes asiáticos são encontrados em diversas regiões da Ásia, incluindo florestas tropicais e planícies. Enquanto isso, elefantes africanos habitam uma variedade de ambientes, como savanas, florestas e pântanos africanos.
Ambas as espécies enfrentam sérias ameaças à sua sobrevivência, incluindo a perda de habitat e a caça furtiva para o comércio ilegal de marfim. A compreensão dessas distinções é essencial para promover a preservação e a proteção adequada desses magníficos animais em seus habitats naturais.
🤝Conhecendo o Santuário
O Santuário está localizado no município de Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá. O espaço tem o apoio de duas renomadas organizações internacionais de defesa e estudo dos elefantes, ElephantVoices e Global Sanctuary for Elephants.
Os animais vivem em uma área de aproximadamente 1,1 hectares, que era uma antiga fazenda utilizada para a criação de gado. As elefantas vivem soltas. No entanto, o local também tem uma área de galpões e baias, onde elas são colocadas assim que chegam até que se sintam confortáveis a sair do recinto.
Para conhecer o Santuário não é preciso ir lá, até porque os elefantes vivem soltos e se escondem na mata, e a intenção é justamente que eles não sejam uma atração como foram durante a vida toda nos cativeiros onde viveram.
No entanto, nas redes sociais e no portal da entidade, é possível acompanhar os relatos do dia a dia destes animais, assim como assistir aos vídeos que os tratadores conseguem fazer durante o atendimento a elas.
Quem quiser ajudar de forma mais efetiva, pode participar da campanha ‘Adotar um Elefante’, enviando recursos especialmente para os cuidados de qualquer uma das moradoras.
Fonte: G1 – Meio Ambiente