Ex-jogador dispensado pelo Flamengo busca realizar sonho dentro e fora do futebol após sobreviver a incêndio no Ninho

Naydjel Callebe sobreviveu ao incêndio no Ninho do Urubu e agora joga futsal.

Com apenas uma semana no Rio de Janeiro, Naydjel Callebe já se sentia como um verdadeiro jogador do Flamengo. Aos 14 anos, o jovem vindo de Marechal Cândido Rondon-PR estava radiante com a oportunidade. Suas redes sociais estavam repletas de mensagens de apoio e incentivo, e ele já estava se entrosando com os colegas rubro-negros no Ninho do Urubu.

Como não iria treinar no dia seguinte, aproveitou para conhecer melhor as instalações do Ninho do Urubu e bater uma bola com os novos amigos. Foi dormir tarde, mas com um sorriso no rosto por estar vivendo seu sonho de ser jogador do Flamengo.

Cenário devastador: uma explosão e um incêndio

Apenas pouco mais de 2 horas após ter adormecido, o jovem foi despertado pelo barulho ensurdecedor de uma explosão. Em um primeiro momento, achou que se tratava de uma brincadeira dos colegas e tentou ignorar o ruído para voltar a dormir. No entanto, o destino lhe pregaria uma peça. Wendel Alves, com asma e em crise de falta de ar, foi o responsável por acordá-lo desesperadamente. A cena dantesca que se iniciava, com o colega gritando que o quarto estava em chamas, teve um impacto imediato em Naydjel.

Eu me levantei apressadamente e atravessei a porta. Tudo estava obscurecido por uma névoa reduzida, resultado da fumaça, e eu apenas conseguia vislumbrar um feixe de luz diante de mim, emanando de uma moça que carregava uma lanterna

, relatou o jovem ao ESPN.com.br.

O incêndio foi tão devastador que o garoto teve que sair dos alojamentos apenas com a vestimenta que trajava, testemunhando, em seguida, o desmoronamento de parte dos contêineres, todos consumidos pelas chamas.

O esforço desesperado para salvar vidas

Em meio ao caos e ao desespero dos colegas, eles tentaram de todas as formas apagar o fogo, valendo-se dos extintores disponíveis. Infelizmente, foram em vão, revelando a dimensão da tragédia que se abatia sobre eles. Os seguranças do clube foram imediatamente acionados para solicitar a presença do corpo de bombeiros e da polícia.

A chegada das equipes de resgate não demorou, mas já era tarde demais para dez jogadores das categorias de base do Flamengo, que não tiveram a oportunidade de escapar e perderam suas vidas.

Os momentos angustiantes após a tragédia

O esforço para informar aos familiares que estava a salvo foi hercúleo, uma vez que ninguém atendia aos telefonemas. Somente por volta das nove da manhã, Naydjel conseguiu emprestar o celular do supervisor para tranquilizar os pais, que já estavam a par da tragédia.

Minha ligação foi atendida com desespero, já que estava realizando a chamada de um número desconhecido. Ao ouvir minha voz, me informei de que estava seguro e, ironicamente, havia uma festa no local. Todos já estavam cientes do ocorrido

, relatou o jovem.

Sua alegria em contato com a família, no entanto, foi rapidamente abalada pela notícia de que Gedinho, amigo de longa data, estava entre as vítimas fatais. O telefone precisou ser desligado às pressas, pois outros colegas necessitavam comunicar-se com seus entes queridos.

A saga após a tragédia: superação e luta

No entanto, para Naydjel, o inferno estava apenas começando. Após prestar depoimento na delegacia, teve que enfrentar a presença constante da imprensa, que o acossava em busca de declarações. O dia da tragédia, ocorrida em 8 de fevereiro de um ano que já se foi, estava muito longe de seu desfecho.

A jovem foi forçado a passar vários meses na casa dos pais logo após o incêndio. O processo de aceitação foi longo e desgastante, uma vez que ainda tinha a sensação de que tudo não passava de um pesadelo. O retorno ao clube foi um duro golpe, ao constatar a ausência da área afetada, o que forçou Naydjel a encarar a realidade crua dos fatos.

O amparo psicológico oferecido pelo clube no início foi crucial para sua recuperação. O apoio dos atletas profissionais fez toda a diferença naquele momento conturbado. No entanto, a convivência com os colegas de escola e moradia tornou-se um tabu, visto que evitar tocar no assunto não diminuía o peso da tragédia.

Complicações e reviravoltas

O impacto foi tão avassalador que acabou por prejudicar o desempenho nos campos de futebol. A falta de entusiasmo e a desmotivação foram evidentes, tornando árdua a retomada de sua carreira. Após o término da temporada 2019, o futuro dele no clube se tornou incerto, uma vez que sua dispensa se confirmara, em um dia fatídico, quando completou 15 anos, em 8 de janeiro, precisamente 11 meses após a tragédia.

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Sobrevivente do incêndio no Ninho do Urubu fala sobre saída do Flamengo: ‘Já estava me preparando para voltar’

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Sobrevivente do incêndio no Ninho do Urubu fala sobre saída do Flamengo: ‘Já estava me preparando para voltar’

O destino do jovem tomou um rumo inesperado quando, ao completar 15 anos em 8 de janeiro, foi dispensado pelo Flamengo, algo que chocou a todos. A notícia foi dada à sua mãe, e a dimensão do abalo que sentiu ao ser comunicado da decisão do clube foi incalculável. Nenhum atleta esperava que algo tão desolador poderia irromper após a tragédia que os cobriu de luto.

Depois da dispensa, nunca recebi um contato do Flamengo, para nada

, lamentou Naydjel, que viu seu sonho de se tornar um profissional no clube do coração esvair-se diante de seus olhos.

Diante da nova realidade, o jovem buscou outras oportunidades em clubes como Atlético-MG, Coritiba e Grêmio, mas sem sucesso. O impacto da pandemia de COVID-19 na sequência impediu que prosseguisse sua busca, mas não arruinou sua esperança. Sem condições de treinar em um clube, Naydjel conciliou o trabalho com a faculdade de educação física, retomando o futsal no time sub-20 do Copagril-PR.

O futsal ganhou um significado especial em minha vida agora, mas sigo de olho em qualquer oportunidade de atuar em um grande time no futebol de campo. A faculdade é um plano B, assim como um futuro profissional no futsal, caso não se realize o sonho de atuar no campo

.

Enfrentando desafios e mantendo a esperança

No conforto do lar, encontrou refúgio e apoio na família, que tornou-se seu pilar diante das adversidades. A força e a orientação de sua mãe, somada ao apoio e à presença constante do pai, transformaram-se em uma âncora que lhe trouxe segurança e estabilidade emocional.

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